Round 6 da Netflix faz referência à greve de funcionários da marca SsangYong, um dos acontecimentos mais trágicos da indústria automobilística.
A série Round 6 da Netflix virou febre mundial desde que estreou em setembro. A trama se desenvolve retratando um lado sombrio da sociedade sul-coreana. Pessoas endividadas de diferentes camadas sociais aceitam participar de jogos secretos e mortais. Tudo em busca de um prêmio milionário em dinheiro vivo. Mesmo sendo uma ficção, a trama traz cenas baseadas em fatos reais, uma delas remete a um trágico episódio que marcou a indústria de carros na Coreia do Sul.
O público sul-coreano provavelmente reconheceu de imediato a referência feita à greve de trabalhadores que ocorreu na fábrica da SsangYong, em 2009. Até porque, na tradução, o da marca significa ”Dois Dragões”. Bem parecido com o da empresa fictícia “Dragon Motors”.
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Para não dar mais spoiler, não trataremos dos eventos ocorridos no episódio da série. Falaremos apenas da SsangYong, que vendeu veículos no Brasil na última década, e teve seu processo de falência em 2009, em consequência da crise mundial de 2008. Com uma dívida em torno de US$ 258 milhões, a montadora iniciou um plano de reestruturação na sede, em Pyongtaek. Contudo, a estratégia traria a demissão em massa de 2.600 funcionários.
Com tais condições ruins e pela falta de acordo entre as partes, uma greve foi organizada por cerca de 974 trabalhadores da fábrica e teve duração de longos 77 dias. Em julho de 2009, com o apoio da SsangYong, a polícia se envolveu na repressão com autorização judicial. E foi assim que um embate com armas não letais teve início, com balas de borracha, bombas de gás e cassetetes.
Os grevistas foram cercados e barrados de receberem visitas por mais de dois meses. Suprimentos como água, energia e, até mesmo, comida não eram enviados para dentro da fábrica. Teve até helicópteros sobrevoando 24h por dia com o propósito de impedir que as pessoas conseguissem dormir.
Bombas caseiras e outras armas improvisadas para se defender dos ataques policiais foram confeccionadas por funcionários que estavam na fábrica diariamente fazendo barricadas. Só nesse período, há registro de mais de 50 pessoas feridas.
Apesar de ter havido acordo, foi divulgado pela imprensa local que, em 2018, uma comissão concluiu que a polícia cometeu violações dos direitos humanos. Contudo, nada foi feito até hoje.
Os manifestantes afirmaram que 30 pessoas morreram por conta de uma das greves mais longas e trágicas da história da indústria automobilística. A maioria das mortes foram registradas como suicido. O motivo foi depressão e outros problemas psicológicos que muitas pessoas desenvolveram após os conflitos em Pyongtaek.